Sobre os escreventes que atiram para a lágrima no canto do olho

"Convém às classes dominantes que os escritores sejam castrados, como a sociedade vitoriana tentou castrar o Dickens e até certo ponto conseguiu e tentou castrá-lo de uma forma extremamente subtil, que foi adoptando-o. Da mesma maneira que se tentou fazer cá com o Camilo, nomeando-o Visconde de Correia Botelho, limando-lhe as arestas, e com o Garrett e até certo ponto com o Eça de Queirós. Portanto, eu penso que a brandura dos costumes foi sempre aparente, fazia parte de todo um sistema hipócrita em que era baseado.
Como grande parte da escrita que se faz por cá , fala-se em masturbação intelectual / sentimental, eu acho que nem é masturbação, são umas vagas festinhas na ponta do pirilau. Não tem sangue, não tem tripas, não tem aquilo que o Rilke chamava sangue, olhar e gesto. É uma literatura sem sangue e sem olhar e sem gesto, é uma sei lá, pá, é uma merda que anda à roda."


- "Entrevistas com António Lobo Antunes"

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