Holy Holy Holy

























"Shaktí teve a sensação de que seu corpo existia pela primeira vez. Sentiu não que Shiva penetrava nela, mas que Shiva abria-se para ela como uma vasta cavidade e a acolhia em si. O contacto com a superfície de seu corpo a absorvia dentro dele. 
Encantada, no escuro, Shaktí tocava as paredes de Shiva. Procedia na direcção de seu centro como na direcção de brasas no fundo de uma caverna. Estava perdida, mas sentia que estava para se reencontrar. Ou antes: sentia que aquilo que estava ocorrendo era um retorno.


O coito de Shiva e Shaktí durou vinte e cinco anos , sem que Shiva vertesse nela  o sémen. Como um elefante aprisionado, Shiva não se podia se mexer senão tocando o corpo de Shaktí. Quando falavam, brincavam. Com musgo Shiva desenhou nos seios de Shaktí pequenas mancham que pareciam abelhas zunindo em torno de um lótus Se Shaktí se mirava no espelho, Shiva escondia-se atrás dela até que Shaktí pensasse estar sozinha. Depois, um olho de Shiva aflorava do espelho."




- "Ka"
- Roberto Calasso
- Companhia das Letras
- 12€

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