"Portanto , repouso, se é que se pode chamar a isso repouso, em que se espera conhecer o nosso destino, pensando, Talvez não seja assim, Perguntando, Donde é que vê estas palavras que me saem da boca e o que é qu
e significam, não, não perguntando nada, porque as palavras já não surgem, se é que se pode chamar a isso uma espera, em não há razão, em que se ouve, porque a voz se cala, sem razão, como desde o início, porque um dia pusemos a ouvir, porque não se pode mais deixar de ouvir, isso não é razão, se é que se pode chamar a isso repouso. Mas que história é essa de não se poder morrer, viver, nascer, tudo isso tem de desempenhar um papel, está história de se permanecer onde se está, agonizando, vivendo, nascendo, sem poder avançar, ou recuar, ignorando de onde se vem, onde se está, para onde se vai, e que é possível estar noutro sítio qualquer, ser diferente, sem nada supor, sem nada perguntar a si mesmo, não se pode, está-se onde se está, não se sabe quem, não se sabe onde, e a coisa fica-se por aqui, nada muda, na coisa, à volta dela, aparentemente, aparentemente."
-"O Inominável"
- Samuel Beckett
- 13€