Seymour,
resolvi inaugurar um caderno, de tamanho moderado, onde me permito ser infantil. A família sempre me encarou como uma adulta e creio que tenham sido necessários vários erros para que me vissem, tardiamente, como uma criança. Num destes dias imaginei que escrevia um livro cujo ponto de partida seria um desencontro seguido de uma desistência. Pensei nisso não como uma fatalidade, mas como algo de muito natural. Isto faz-me pensar que uso de um realismo desactualizado, que me interessa escrever telefone em vez de telemóvel ou bilhete em vez de sms. Não deixa de ser espantoso que, ainda assim, me seja tão natural existir no meu tempo. E que me interesse tanto que o meu tempo surja, com a maior limpidez possível, no meu texto. Limito-me a quebrar o vocabulário, em jeito de contrapeso, contraponto. Às vezes sei que vou morrer antes desse texto mas agrada-me pensar que viverei sempre, inevitavelmente, através dele. Até amanhã.
F.
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